Escola de Verão de Física celebra 20 anos a inspirar jovens de todo o mundo

Criada em 2005, a Escola de Verão de Física introduziu uma nova maneira de fazer divulgação científica. As candidaturas para a 20ª edição estão abertas até ao dia 20 de junho.

Há 20 anos que a Escola de Verão de Física inspira jovens estudantes, de várias partes do mundo, a explorar o mundo da física. Organizada pelo Departamento de Física e Astronomia da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), a iniciativa tem proporcionado um contacto direto entre investigadores e alunos do ensino secundário apaixonados pela ciência.

20ª edição vai decorrer de 24 a 29 de agosto e tem candidaturas abertas até 20 de junho.

“O nosso objetivo principal é divulgar a Física e inspirar os mais jovens nesta área. Mesmo que queiram seguir um curso de Medicina, mas que gostem e queiram conhecer a área da Física, nós abrimos as portas”, conta João Viana Lopes, professor da FCUP e um dos fundadores da EVF.

Durante cinco dias, os melhores estudantes do secundário são desafiados numa semana de trabalho intenso e numa experiência imersiva na área da física. O que distingue a EVF de outras atividades é o espírito de “residência científica”. Nos últimos anos, têm ficado alojados na Escola Prática de Transmissões, no Porto. Para além da aprendizagem e experiência científica, promove o convívio e o networking.

A experiência dos participantes

Ao longo de 19 edições, já passaram pela EVF mais de 1200 participantes oriundos de várias partes do mundo.

Hélia Mandinga, natural de São Tomé e Príncipe, foi a primeira estudante africana a participar nesta iniciativa. Fez parte da 3ª edição, que tornou a EVF internacional. “Foi uma excelente oportunidade para conhecer outras pessoas de outras culturas, com outros pontos de vista, mas com uma paixão em comum pela ciência”, conta. Hélia, na altura a melhor aluna do ensino secundário da sua escola, seguiu a carreira de economia e trabalha como auditora na área da saúde, com a função de inspecionar fundos atribuídos para a erradicação da SIDA, malária e tuberculose em países em desenvolvimento.

Para Renata Lei, estudante de doutoramento no Instituto Max Planck, na Alemanha, a EVF foi “um primeiro contacto com a física ‘mais a sério’”. A jovem investigadora participou na edição de 2018 para explorar e conhecer a área e destaca o “ambiente estimulante e a exposição a temas mais avançados e fascinantes”. “Estar em contacto com pessoas tão entusiasmadas acabou por ser muito motivador e desafiador, e levou-me a investir mais a sério na Física”, conta. Renata, que na altura trabalhou na área da holografia, investiu no mestrado integrado em engenharia física na FCUP.

Já Jorge Cardoso Leitão, que estudava em Faro, foi até à FCUP participar na 2ª edição. Apaixonado pela Física, tinha intenções de estudar no Instituto Superior Técnico, mais perto de casa, mas a experiência na EVF fê-lo mudar de ideias. “Foi a primeira vez que interagi com investigadores e, com o projeto em que trabalhei, aprendi uma nova linguagem de programação – o Python – e que era possível programar e fazer simulações na área da Física”, conta. Jorge fez licenciatura e mestrado em Física na FCUP e foi na área das simulações – em concreto as simulações de Monte Carlo – que se especializou.

De participantes a jovens monitores

Nesta escola, as aulas são dadas por monitores – estudantes de doutoramento que dão a conhecer a sua investigação e o dia a dia na Ciência. No final da semana, os participantes têm de defender o seu trabalho perante os pares – tal e qual um cientista.

Mais tarde, enquanto fazia o doutoramento, Jorge voltou à FCUP para ser monitor. “Tive a oportunidade de retribuir e senti nos participantes o mesmo fascínio e brilho no olhar que eu tinha quando participei”, descreve o agora consultor na área de Ciência de Dados.

António Rocha, engenheiro físico formado na FCUP e cofundador da empresa Smartex, foi também monitor e aluno desta escola. A vontade de aprender mais levou-o a participar na 7ª edição da escola, em 2011. Encontrou um conjunto de pessoas “altamente motivadas”. “Aprendi bastante e fiquei bastante convencido – como estava numa fase de decisão do meu percurso académico, a escola ajudou-me nesse processo”, conta. Por isso, não hesitou quando, no 4º ano, do Mestrado em Integrado em Engenharia Física, surgiu o convite para ser monitor. Uma retribuição que ainda continua com o apoio da Smartex como um dos patrocinadores do evento.

A Smartex.AI financia uma viagem de aluno proveniente dos PALOP. “É muito difícil conseguir pagar estas viagens e conseguir que venham participar, até porque há muita burocracia e por vezes não chegam a ter os vistos a tempo”, conta João Viana.

Uma escola internacional

Os participantes da EVF vêm de várias partes do mundo: “Temos estudantes de todo o país, incluindo Açores e Madeira, de São Tomé e Príncipe, Moçambique, Cabo Verde, Angola, China (Macau), Espanha (da Galiza) e mais recentemente têm participado alunos que são filhos de emigrantes em países como a França, Bélgica e Alemanha”, detalha o docente da FCUP.

Esta escola inspirou, aliás, a criação da Escola de Verão ICTP-SAIFR para Jovens Físicos, em S. Paulo, no Brasil.

A EVF envolve a participação ativa dos vários centros de investigação da FCUP na área da Física e tem como apoios a Fundação Jorge Álvares, a Fundação Portugal-África, a Escola Portuguesa de Macau, a Patentree e a Smartex.AI.

Como funcionam as inscrições

As candidaturas para a edição deste ano decorrem até ao dia 20 de junho (sexta-feira). Para além do preenchimento do respetivo formulário, os/as alunos/as devem enviar também uma carta de recomendação do professor(a) de Física ou de Matemática.

A propina da Escola é de 120 euros e inclui todo o programa científico, alojamento e refeições.

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