Laboratório Ficcional CAVALETE DO FOJO

Imagem do Google Earth com desenho em sobreposição. Linha verde: limite da zona de intervenção e conservação. Linhas azuis: água subterrânea

 

 

Residência da artista plástica e investigadora Susana Soares Pinto

O laboratório ficcional

é um projeto que está a ser desenvolvido na antiga zona mineira do Pejão (Castelo de Paiva) nas imediações do Cavalete do Fojo. Trata-se de uma abordagem artística, ecológica e social que está em curso desde 2021 em parceria com a comunidade local, a câmara municipal de Castelo de Paiva, as associações Sol Nascente e Arcaf, o ICNF e o CENASEF. Foi desenhado um plano de intervenção que tem a forma de uma flor: para o centro, um charco e para as pétalas, espécies autóctones.

 

primeiro ato

 

Plano de plantio

Quais as primeiras acções a por em prática?

– apresentação do projeto à comunidade

– definição da área de trabalhos e condições necessárias para uma boa prática: água, sombra e sol, segurança

– limpeza da área de intervenção: remoção das espécies invasoras e abertura de círculo para o charco.

 

 

“ If we will have the wisdom to survive,
to stand like slow growing trees on a
ruined place, renewing, enriching it…
then a long time after we are dead
the lives our lives prepare will live
here…

(Wendell Berry, “work song, part 2: A vision”)

 

 

O conteúdo desta forma vai ter diferentes aproximações. Primordialmente queremos dignificar o solo inserindo e estimulando a biodiversidade para incentivar a formação de um micro-bioma. Um bioma é uma grande comunidade ecológica que se estende por uma vasta área geográfica, mas este micro-bioma tem uma área de 400m2 e pretende pensar o impossível: transformar a realidade. Toda a zona do Cavalete do Fojo ardeu em 2017 criando as condições ideais para a instalação de espécies vegetais invasores. O eucalipto que é plantado pela industria do papel domina toda a paisagem circundante, e na zona do cavalete restam raras espécies autóctones, como o medronheiro, o salgueiro, o carvalho, o sobreiro e outras a estudar. Como acção reactiva criamos a revolta das espécies autóctones.

 

A REVOLTA DAS ESPÉCIES AUTÓCTONES é uma acção que precisa dos humanos, da fauna, da flora e da funga, como parceiros na criação.
O QUE SÃO ESPÉCIES AUTÓCTONES OU NATIVAS?
São espécies da flora, fauna e funga originários do próprio território, de Portugal. Com os descobrimentos e a construção das naus, abateram-se muitas árvores: para a construção de uma nau eram necessárias 2000 a 4000 árvores (carvalhos). Para o Brazil construiram-se 500, para a India 800 e para Ceuta 300. Esta desflorestação do país afetou profundamente a biodiversidade das plantas, animais e fungos.
O pinheiro bravo foi semeado com grande profusão particularmente durante a política de arborização do Estado Novo.
A partir de meados do século XX, os pinhais têm vindo a ser substituídos por eucaliptais que servem os interesses das celuloses na produção de pasta de papel. Nas últimas décadas a explosão das plantações de eucaliptos fizeram de Portugal a maior área de eucaliptal contínuo da Europa.
PORQUE É QUE PRECISAMOS DAS ESPÉCIES AUTÓCTONES?
• amenização do clima;
• armazenamento de carbono atmosférico;
• conservação da água e do solo;
• conservação da biodiversidade;
• preservação e melhoria da paisagem;
• prevenção dos fogos florestais;
• preservação de valores históricos e culturais;
• promoção de actividades de recreio e do turismo;
• produção de bens não-lenhosos (frutos silvestres, plantas medicinais e aromáticas, cogumelos, mel, pastoreio, caça);
• produção de bens lenhosos (madeira, cortiça).

Começamos por pedir permissão ao solo e apoio à câmara municipal, e para acções de voluntariado, optamos por nos juntar com os guardiões e as associações Sol Nascente e Arcaf. O primeiro estudo elaborado foi sobre o lugar a implementar o laboratório ficcional: analisamos a exposição solar e o acesso à água para irrigação. Depois de escolhido o lugar, passamos à sua demarcação e à observação das espécies. Este trabalho foi realizado em conjunto com os guardiões e a associação Sol Nascente. Rapidamente percebemos que a Acacia dealbata, n.c. mimosa, reinava. Esta espécie invasora deverá ser retirada do solo com raiz ou, quando o tempo assim o permite, secá-la usando a técnica da descascagem. Como não temos disponíveis 6 meses de espera, optamos por retirá-las com raíz. O guardião Hugo Rodrigues (HR) fez, por iniciativa própria, o descasque de uma mimosa nas imediações para contabilizarmos o tempo de espera desta técnica. Poderá ser usada se houver intenções futuras para a eliminar noutras áreas.

A retroescavadora e seu maquinista disponibilizados pela câmara municipal junto com HR, retiraram as mimosas e deixaram dois cedros, um salgueiro, um medronheiro e dois sobreiros que emergiram ao nosso olhar durante a limpeza. Ainda com a ajuda destes parceiros, foi aberto um círculo com 8 m de diâmetro e 60 cm de profundidade máxima, no centro da área de intervenção, para a criação de um charco. Esta zona de água pretende, no futuro, ser o habitat de diferentes espécies de invertebrados, insectos, plantas aquáticas e tantos outros seres invisíveis a olho nu.

Quais são as próximas ações?

– impermeabilização do charco

– pedido de apoio ao ICNF para a obtenção de espécies autóctones

 

segundo ato

1ªparte

Charco. Novamente os trabalhos foram feitos em conjunto e desta vez com colaboradores da união de juntas e da câmara municipal. Foi aberta uma ranhura no solo para inserir a tubagem que conduz a água de mina até ao charco. Já temos água para encher o charco e para futuras regas! Colocamos no fundo da superfície a lona plástica e de seguida a tela geotêxtil. Abriu-se a torneira da água e rapidamente formou-se um espelho.

 

 

Trabalhos para a realização do charco
2ª parte
Convite para plantio e preparação dos elementos necessários para a plantação. De acordo com o plano idealizado iríamos plantar, numa primeira fase, 45 árvores muito jovens para que as suas raízes cresçam saudáveis. Estas espécies autóctones foram cedidas pelo ICNF e as excedentes fazem parte do viveiro do Laboratório Ficcional. Para encontrarmos os voluntários mais adequados foi lançado o convite às associações, aos membros envolvidos no projeto e aos investigadores do SHS. Criou-se um certificado de custódia com o nome do voluntário e o número da árvore a plantar para que ele/a crie uma ligação com a árvore. Através deste certificado pedimos-lhe que preserve a árvore durante os próximos 100 anos e estes serão reconhecidos como conservadores do Laboratório F. e membros de um grupo aberto. Previamente foram desenvolvidas as etiquetas a ser colocadas nas árvores utilizando um processo de reciclagem de latas de refrigerantes, com a inscrição do nome do conservador/a e o número correspondente. Também numa acção de aproveitamento de excedentes, as mimosas arrancadas da área de intervenção foram trituradas com uma máquina adequada para servir como cobertura de solo.
Certificado de custódia, a preencher com o nome e numero do restaurador, e assinado pelo presidente da junta e por mim.
Etiquetas de aluminio gravadas
Mimosas trituradas
3ª parte

Dia 6 de Março às 10h iniciamos os trabalhos de plantio. Juntaram-se pessoas que não estavam na lista dos voluntários, aos quais demos as boas vindas. Iniciei por fazer um discurso de apresentação do projeto e expliquei qual a metodologia que íamos aplicar. O desenho do plano foi distribuído por cada pessoa, para que seguissem as minhas indicações quanto á organização das ações.

 

Discurso sobre o projeto e metodologia a aplicar

 

Os 30 voluntários dividiram-se em 5 grupos que correspondem às 5 áreas de plantio (consultar desenho do plano). O lugar de cada árvore estava assinalado com uma estaca e cada grupo tinha 8 árvores para plantar. Essas 8 árvores encontravam-se em caixas e para estimular a curiosidade, não tinham identificação. Na mesa de trabalho estavam as fichas técnicas de cada espécie, com imagens e suas características, possibilitando a consulta para identificação. De acordo com as características geográficas, o clima, o solo e o plano de intervenção optamos por plantar as seguintes espécies (árvores):

Alnus glutinosa, n.c. amieiro

Arbutus unedo, n.c. medronheiro

Betula pubescens, n.c. bétula

Crataegus monogyna, n.c. pilriteiro

Laurus nobilis, n.c. loureiro

Ilex aquifolium, n.c. azevinho

Malus sylvestris, n.c. macieira-brava alternada com Pyrus communies, n.c. pereira-brava

Quercus super, n.c. sobreiro

 

 

Identificação das espécies
Participantes de diferentes grupos etários
Mesa de apoio com documentação: fichas técnicas das espécies, livros para consulta ‹ EARTH REPAIR – a grassroots guide to healing toxic and damaged landscapes; EXTINCTION – a radical history; UMA MÃO CHEIA DE PLANTAS QUE CURAM ›, etiquetas de identificação do conservador e certificados de custódia
Trabalhos dos restauradores ecológicos a terminar.

 

As imagens foram realizadas pelo estudante do primeiro ciclo em Erasmus na faculdade das Belas Artes, Roeland Rooijakkers, que me acompanhou durante todo o dia. Já a pensar na ação que precede esta, após o término do plantio, distribuímos a madeira ralada sobre o solo para que este, em autonomia, crie matéria orgânica para alimentar todos os seres vivos que o habitam.

 

Plano concluído

 

 

Quais são as próximas ações?

– pedido de sementes de arbustivas ao CENASEF para serem semeadas no viveiro do Laboratório F.

– aquisição de arbustivas e sub-arbustivas para transplante

– semear prado

– projeto para placa de identificação

– cianotipias

 

 

terceiro ato

 

(a continuar)

 

 

 

 

 

SOL NASCENTE – O Centro Social Sol Nascente de Santo Ildefonso – Castelo de Paiva

ARCAF – Associação Recreativa, Cultural, Patrimonial e Ambiental de Folgoso

ICNF – Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas

CENASEF – Centro Nacional de Sementes Florestais

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