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Identificação de polimorfismos nucleotídicos simples (SNPs) em perdiz (Alectoris sp) e codorniz (Coturnix coturnix). Aplicação na detecção de hibridação com espécies exóticas e formas domésticas.

Ângela Maria Oliveira Ribeiro

A perdiz-vermelha (Alectoris rufa) e a codorniz-europeia (Coturnix c. coturnix) são os únicos galiformes autóctones que ocorrem em Portugal. O concomitante abandono da agricultura tradicional, a reflorestação de campos agrícolas e a elevada exploração cinegética conduziram ao declínio dos seus efectivos populacionais. O elevado interesse cinegético de ambas as espécies, na Península Ibérica, conduziu à generalização da prática da criação destas aves em cativeiro, bem como da importação de stocks de espécies exóticas e/ou formas domésticas com a finalidade de serem utilizadas em operações de repovoamento para reforçar as populações naturais. A crescente preocupação sobre o impacto da hibridação nas populações silvestres de codorniz e de perdiz e a ausência de evidências morfológicas diagnosticantes que permitam identificar híbridos e tornam fundamental o desenvolvimento e a aplicação de marcadores genéticos.

A utilização de primers não específicos permitiu a identificação de três e seis polimorfismos nucleotídicos simples (SNP) intersubespecíficos na codorniz e interespecíficos na perdiz, respectivamente. A detecção de SNPs com elevado grau de heterozigotia na codorniz e consequentemente o menor valor de FST obtido em codorniz (0,37 calculado para três SNPs) quando comparado com o valor obtido em perdiz (0,93 calculado para seis SNPs) direccionou o trabalho de genotipagem apenas para Alectoris. A bateria de seis SNPs foi utilizada para genotipar 104 perdizes: 55 perdizes-vermelhas (A. rufa), 12 perdizes-gregas (A. graeca) e 34 perdizes-chukar (A. chukar), classificadas de acordo com caracteres fenotípicos e a origem geográfica. Como termo de comparação, foram incluídos na análise três híbridos de primeira geração, entre A. rufa e A. chukar, criados em cativeiro. A variabilidade genética foi significativamente repartida por três grupos (FST= 0,93; P<0,001), sugerindo que a diversidade morfológica das espécies reflecte a heterogeneidade genética. A análise multivariada demostra a existência de três grupos distintos, congruente com a taxonomia, e um grupo intermédio composto pelos híbridos. A análise Bayesiana permitiu afiliar cada perdiz a um de três grupos, sem utilizar informação a priori, e confirmar a origem das perdizes híbridas controlo, classificando-as como F1, tal como era esperado. Na análise das 50 perdizes-vermelhas silvestres, amostradas em Portugal, não foi detectado qualquer híbrido. Os resultados obtidos sugerem que a extensão da bateria de SNPs optimizada permitirá identificar de forma inequívoca os híbridos, podendo ser implementada como teste genético para fins de conservação.