Vitor Vasconcelos, docente da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) e diretor do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR-UP), integrou uma equipa internacional de investigadores que, no âmbito da ação CYNANOST (da ação COST), realizou um estudo pioneiro acerca do impacto das alterações climáticas na ocorrência de cianobactérias tóxicas. Neste trabalho participaram também Micaela Vale João Morais, antigos estudantes da FCUP e investigadores do CIIMAR.
Em conjunto com especialistas de 104 instituições e 27 países europeus, estudaram 369 lagos europeus tendo como objetivo de avaliar o impacto da temperatura no aparecimento de cianobactérias tóxicas em massas de água espalhadas por toda a Europa. A ação, que terminou este ano, resultou na
publicação de uma base de dados na revista
Scientific Data, do conceituado grupo
Nature.
Esta base de dados moveu outra publicação na revista de acesso livre
Toxins onde é feita a sua análise. No conjunto destes dois trabalhos apresentou-se um dos mais exaustivos estudos alguma vez realizados sobre a problemática das cianotoxinas produzidas por cianobactérias a nível mundial. Os dados obtidos por esta equipa internacional permitiram concluir que os efeitos diretos e indiretos da temperatura são os principais motores da distribuição espacial das toxinas, da sua concentração total e da concentração por célula.
Este estudo servirá de base para a análise da evolução das cianobactérias e suas toxinas em diferentes cenários de alterações globais, mais concretamente no que diz respeito ao aumento previsto da temperatura global provocada pelas alterações climáticas. Os resultados obtidos permitirão ainda avaliar os riscos de expansão de algumas toxinas como é o caso da cilindrospermopsina, uma citotoxina capaz de afetar múltiplos órgãos nos seres humanos e outros animais.
Em Portugal, os primeiros trabalhos nesta área, no início dos anos 90, foram realizados por Vitor Vasconcelos, que, nessa altura, assinava as primeiras publicações internacionais sobre ocorrência de toxinas de cianobactérias em lagos e rios portugueses. Estes trabalhos já conduziram ao desenvolvimento de um plano nacional de monitorização de cianobactérias e toxinas em águas doces e à inclusão na legislação nacional da obrigação da análise da cianotoxina microcistina-LR em águas destinadas a consumo humano. Hoje, estas toxinas e as cianobactérias que as produzem são também analisadas em águas interiores usadas para fins de recreio e praias fluviais.
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