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Álvaro Paralta: 'Dos laboratórios da FCUP, passei para os bastidores da instituição que admirava'

Entrevista a um estudante da FCUP




alvaro

Álvaro Paralta tem o entusiasmo dos que sonham com a ciência. Esta paixão começou desde cedo, a partir da sua casa, e depressa, com incentivo das professoras, entrou na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) para estudar Biologia. Foi nesta licenciatura que surgiu uma outra paixão - a de comunicar ciência. Começou a colaborar com o Jornal Universitário do Porto (JUP) e, ao contrário da maioria dos colegas, fez um estágio na área da comunicação de ciência, no Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S). 

Atualmente, está a explorar a vertente do ensino, ao continuar o seu percurso na FCUP no mestrado em Ensino da Biologia e Geologia. 

Nesta entrevista, fiquem a saber em maior pormenor o percurso, experiências e histórias deste estudante. 

O que o levou a estudar na FCUP e a escolher o curso de Biologia?

Acho que a ideia de ser cientista começou na garagem de minha casa. Com um enorme entusiasmo ao comando, usava peças de mobiliário para simular laboratórios naquele espaço. Muitos foram os laboratórios que ali nasceram e muitas foram as camas que ficaram, para sempre, sem cabeceiras e sem estrados, secretárias sem tampo e cadeiras sem pernas. A toda esta motivação somava-se a participação dos meus pais e irmãos – sempre invariavelmente presentes. A sua contribuição consistia, por um lado, na manutenção do devido equipamento laboratorial – desde microscópios, lâminas, lamelas, pinças e tantos outros materiais que fundamentaram as descobertas -; e, por outro, o mais importante de tudo: a companhia vital nas enumeras aventuras e o alicerce do sonho que, por muito inocente que fosse, se foi mantendo vivo. Mais tarde, as descobertas sem rumo tomaram corpo e passaram da garagem de casa para a sala de aula. Aqui, as professoras Maria Cristina Barbosa e Alice Viveiros tiveram um papel fundamental. A professora Alice, na construção das primeiras memórias felizes da área, e a professora Cristina na demonstração e reforço da inevitabilidade da escolha. A paixão de ambas pelo que ensinavam, e a forma entusiasta e competente com que o faziam, exerceram uma grande influência no meu gosto pela Biologia. As recordações dos laboratórios de Ciências da Natureza – com animais embalsamados por toda a parte -, as primeiras observações ao microscópio, as experiências de extração de DNA e os cadernos (completíssimos) de Biologia e Geologia – fiéis companheiros em cada etapa do percurso – foram ingredientes essenciais na escolha do curso. Quanto à escolha da faculdade, houve sempre em mim um fascínio pela nossa Faculdade de Ciências e pela cidade do Porto - hoje, mais do que convertido em paixão –, o que clarificou a decisão.

O Álvaro foi um dos estudantes da FCUP que começou a colaborar com o Jornal Universitário do Porto (JUP). Que balanço faz desta colaboração? 

Conheci o JUP através das redes sociais. Desde então, fui seguindo alguns dos trabalhos que nelas iam sendo publicados. A dada altura, a ideia de poder tornar-me colaborador foi ganhando dimensão, até que, num dos processos de recrutamento, decidi concorrer. O resultado da candidatura foi positivo e durante dois anos colaborei com a editoria de Ciências e Saúde. Durante menos tempo fiz também alguns trabalhos para a editoria de Cultura. O balanço deste tempo é muito positivo. Tive oportunidade de experimentar, de forma livre, a abordagem a diferentes assuntos e conhecer pessoas ligadas a diferentes áreas do conhecimento. Recordo com muita felicidade os artigos sobre projetos de pessoas da Universidade do Porto: docentes, investigadores e núcleos de estudantes.

A colaboração com o JUP permitiu-me, ainda, “viajar” pelo mundo e pela Ciência a partir de casa. Uma das propostas que fiz à primeira editora de Ciências e Saúde que tive (Sofia Moreira) foi a criação de uma rubrica que nos permitisse conhecer, e dar a conhecer, percursos de cientistas que passaram pela Universidade do Porto e que estão a trabalhar ou a estudar no estrangeiro. A ideia foi recebida com agrado e tomou o nome “Onde andam os nossos cientistas?”. Ao longo de 5 meses andei em busca de pessoas que correspondessem ao perfil pretendido. Do Porto fui até ao Reino Unido, Canadá, Austrália, Emirados Árabes Unidos e Alemanha, passando por áreas como Medicina, Biologia, Engenharia Biomédica e Matemática. Este tempo foi importante para perceber que haveria muito mais por descobrir e quão bela é a diversidade de percursos pessoais e profissionais, perspetivas, ideias e projetos. A rubrica teve continuidade com a editora seguinte, a Mariana Miranda. A minha passagem pelo JUP teve a sua importância, entre outros aspetos, no desenvolvimento da minha capacidade de escrita, de síntese, abordagem de novos temas e criatividade. Em todos estes aspetos, a vontade de aprender e evoluir foi importante, mas igualmente importante foi a liberdade de ação, as correções e orientações dos editores: a Mariana Miranda, a Sofia Moreira, a Inês Pinto, o Daniel Dias e o José Miguel.


juptrabalhos
© JUP | Alguns dos trabalhos realizados por Álvaro Paralta enquanto colaborador do JUP. 


"O estágio no i3S superou as minhas expectativas"

Fez estágio de licenciatura no i3S, mas não foi na área da Biologia. Como surgiu esta decisão e qual a reação dos seus professores quando disse que tipo de estágio gostaria de fazer?

A colaboração com o JUP mostrou-me a possibilidade de ligar a Ciência à escrita, às pessoas, a ideias e a projetos. Como, no 3º ano da licenciatura, teria a possibilidade de me inscrever num estágio curricular, comecei a ponderar fazê-lo na área da Comunicação de Ciência. O termo Comunicação de Ciência não me era estranho porque seguia algumas cientistas que faziam uso dele, muito por via das suas redes sociais e blogues. No entanto, a ideia que tinha daquela área era muito vaga e pouco concreta. Quis conhecê-la de perto e a única certeza que tinha era de que gostava de produzir conteúdo sobre ciência, sobre pessoas na ciência, fosse em que formato fosse. Ponderei, inicialmente, estagiar em redações de jornais. Entrei em contacto com jornalistas e com diferentes órgãos de comunicação, mas, a dada altura, este cenário pareceu inviável pela dificuldade no estabelecimento de contactos. A outra possibilidade seria estagiar num gabinete de comunicação de um instituto de investigação. Neste caso, o i3S era a minha primeira opção. Assim que decidi avançar, a professora Olga Lage, fundamental neste processo, ajudou-me a estabelecer contacto com o Júlio Borlido Santos, que viria a ser o meu orientador de estágio. Foi uma alegria muito grande quando recebi a resposta ao primeiro email. Quanto à recetividade dos docentes, não encontrei qualquer obstáculo ou oponente à ideia de fazer um estágio na área da Comunicação. Pelo contrário, as professoras responsáveis pela unidade curricular mostraram-se muito recetivas à proposta e rapidamente se propuseram a ajudar-me no contacto com possíveis orientadores de estágio.

Como foi a sua experiência de estágio na área da comunicação? 

O estágio no i3S superou todas as minhas expectativas. Devo-o ao Júlio Borlido Santos - pelo espaço que me deu, tanto na definição conjunta da proposta de estágio, logo à partida, como pela acessibilidade (sem quaisquer restrições) aos espaços e às pessoas, pela constante recetividade às ideias propostas, orientação, partilha de conhecimento, paciência e amabilidade no acolhimento do “aprendiz” – e à equipa da Unidade de Comunicação do i3S, sem qualquer exceção - pela fascinante condimentação das minhas descobertas, por fazerem parte delas, pelo carinho, apoio e partilha de saberes. Todo o entusiasmo que levava, em cada dia, via correspondido nos sorrisos, nas conversas, nos momentos de convívio e de aprendizagem. Das bancadas dos laboratórios da FCUP, passei para os bastidores da instituição que admirava (ao longe) há muito tempo. Imagine o êxtase! Os microscópios e laboratórios deram lugar aos press releases, às notícias, conferências de imprensa, jornalistas, reportagens locais, entre outros. Ao longo de um ano, tive oportunidade de conhecer toda a logística e as subtilezas associadas ao processo de produção de notícias de ciência. Cada passo nele envolvido foi estudado, assim como cada um dos intervenientes a ele associados. O livro “Como falar com jornalistas sem ficar à beira de um ataque de nervos?”, de António Granado e José Vítor Malheiros, poderá ser um bom ponto de partida para quem tiver interesse em conhecer uma parte desse processo.

Até ao momento qual o trabalho nesta área que lhe deu mais gosto fazer e porquê?

Por força da atualidade, gostava de destacar o último artigo que escrevi para o Jornal Universitário do Porto, na sua edição impressa, de nome “JUP Mundo Novo”. Há 5 anos que o JUP não era editado em papel, por diferentes ordens de razão. Entretanto, este ano, reuniram-se as condições para que isso voltasse a acontecer. O mote deste número impresso é a pandemia, e a sua ambição é perspetivar um futuro pós-pandemia (um “Mundo Novo”), de acordo com as áreas de cada editoria. Eu contribui para esta edição com um artigo sobre modelos epidemiológicos – modelos que permitem fazer uma previsão do comportamento de um vírus – e os desafios que surgiram (e surgirão) com o SARS-CoV-2. Foi o meu primeiro texto, neste registo, que vi publicado em papel. Consegui reunir, no artigo, duas contribuições internacionais – do professor Daniel Kuritzkes, da Harvard Medical School (Boston, EUA), e da professora Nathalie Grandvaux, docente na Universidade de Montreal (Canadá) e presidente da Canadian Society for Virology – e de dois docentes da FCUP – o professor Pedro Esteves, do Departamento de Biologia, e o professor Óscar Felgueiras, do Departamento de Matemática. Num registo diferente, referiria um artigo publicado num magazine digital, de âmbito regional, com o qual tenho colaborado: a AveiroMag. A Maria José Santana, sua diretora, foi sempre muito recetiva às propostas que lhe fui fazendo. Uma delas foi escrever sobre uma das primeiras cientistas de que ouvi falar: a Joana Magalhães, que trabalha na área da medicina regenerativa, em Espanha. Neste sentido, tive a possibilidade de marcar uma conversa com ela, a partir da qual construí um artigo. Foi uma experiência muito significativa poder ouvir, pela sua voz, as suas histórias, o seu percurso de vida, os seus projetos e perspetivas. Mais do que um artigo sobre uma cientista, propus-me retratar a Mulher que antecede a profissão – ideia que deu o nome à peça. Espero ter correspondido à ambição.

Uma ideia para promover a comunicação de ciência na FCUP...

Penso algumas vezes nestas questões (que, de resto, a literatura levanta): Como poderão os estudantes, futuros profissionais, explicar os seus projetos de investigação de uma forma mais acessível a quem quer que seja? E como poderão estes envolver a sociedade em assuntos de Ciência? Neste sentido, penso que seria interessante a dinamização de ações de comunicação, dirigidas à comunidade FCUP, sob diferentes formatos. Desde formações creditadas, workshops e pequenas palestras, onde tanto estudantes como docentes e investigadores possam expandir horizontes no que diz respeito a ferramentas de comunicação a usar em diferentes contextos; e como poderão adaptar o seu discurso de acordo com os diferentes interlocutores. Talvez fosse importante dar-lhes a conhecer, por exemplo, o que pretende um jornalista quando aborda um investigador, quais os erros mais comuns que um cientista comete aquando do contacto com aquele profissional, qual o papel do assessor de imprensa numa faculdade, como deverá ser preparada uma apresentação para uma audiência não especializada, entre outros assuntos. Neste sentido, a indução do contacto dos nossos estudantes com diferentes profissionais de comunicação, que muito terão para lhes ensinar, poderá ser-lhes útil. Esta poderia ser, também, uma forma de contribuir para a erradicação do estigma existente entre cientistas e profissionais da área da comunicação, tantas vezes referida na bibliografia. Para além disto, poderia ser útil dar a conhecer à Comunidade diferentes formatos que se reúnem em Comunicação de Ciência, como são exemplo projetos de Ciência Cidadã (como o Natura +, desenvolvido na FCUP, ou o Ocean Alive, da cientista Raquel Gaspar), Cafés com Ciência, promoção de ciclos de debates abertos à população, etc. Esta poderá ser uma forma de passarem a ser considerados formatos alternativos na formulação de projetos de investigação, tornando-os mais abrangentes e, talvez, incluindo uma componente social.

"Um professor tem uma fortíssima arma social nas mãos"


Inscreveu-se no Mestrado em Ensino de Biologia e de Geologia no 3ºCiclo do Ensino Básico e no Ensino Secundário? O que levou a seguir esta área e não um curso mais voltado para a comunicação/divulgação de ciência?

Quando ingressei na licenciatura, ser professor do ensino secundário já era uma possibilidade. Percebi, desde cedo, que esse poderia ser um caminho a seguir (e talvez o mais provável). Sempre me sensibilizou a capacidade que os meus professores foram tendo, não só de ensinar, mas essencialmente pela influência na escolha dos possíveis caminhos a seguir, nas ferramentas de gestão pessoal que nos transmitiam e na capacidade de gestão de problemas e conflitos. Um professor tem, para além do conhecimento a ensinar, uma fortíssima arma social nas mãos. Gostava de ser sabedor o suficiente para usá-la adequadamente no combate às pequenas desigualdades que, com o passar do tempo, se tornam em grandes desigualdades. Durante os três anos da licenciatura, conheci novas áreas e ponderei outras possibilidades, sendo a candidatura a um mestrado na área da comunicação uma delas. No entanto, na altura de tomar uma decisão, a escolha rumou contra o adiar de um sonho. As influências foram obvias e o apoio da família foi, mais uma vez, a segurança necessária para avançar para a nova etapa.

Quais os seus projetos para o futuro?

Gostava, a curto prazo, de concluir o mestrado que frequento da melhor forma que conseguir. Depois, há a hipótese do doutoramento, que estou a ponderar. Entretanto, gostava muito de ir fazendo trabalhos de divulgação científica, independentemente do formato, bem como trabalhos na área da comunicação que não estejam necessariamente associados à Ciência. A ambição de integrar um gabinete de comunicação também me habita há algum tempo - fascina-me a possibilidade de trabalhar com (e sobre) pessoas, ideias e projetos. Ainda assim, seja na Ciência ou em qualquer outra área, terei sempre em mim a ambição maior de corresponder às apostas constantes (e sem medida) dos meus pais e irmãos - fazendo com que o mobiliário desaparelhado de algum dia tenha valido a pena.





Renata Silva. SICC. 12-12-2020
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