Ferreira da Silva | Química para a vida, uma vida de química.
59 O caso da suposta salicilagem dos vinhos portugueses Pela comparação dos boletins para registo dos resultados das análises a vinhos, no início da atividade do Laboratório Químico Municipal (1884) e duas décadas mais tarde, é possível atestar uma evolução nos métodos empregues, bem como no aumento do número de parâmetros a que atentar para caracterizar um vinho da forma mais completa possível. Foram numerosos os trabalhos analíticos sobre vinhos de mesa, vinhos licorosos, jeropigas, etc., assinados por Ferreira da Silva ao longo da sua carreira, desenvolvidos quer no Laboratório Químico Municipal quer no Laboratório Químico da Academia Politécnica ou da Faculdade de Ciências, frequentemente a pedido da Associação Comercial do Porto. É disso exemplo um artigo sobre os vinhos retintos do Minho, publicado em 1918 na Revista de Chimica Pura e Applicada: nele, mais uma vez, Ferreira da Silva desmontou uma campanha contra o consumo destes vinhos em curso no Rio de Janeiro, sob alegações de que a coloração intensa resultava da adição de corantes vegetais estranhos e, nomeadamente, da baga de sabugueiro. Em “A adubação dos vinhos licorosos…” (1904), Ferreira da Silva esclareceu que não podiam ser considerados processos fraudulentos, sendo, portanto, legítimos e estando salvaguardados pela lei os tratamentos e adubações dos vinhos licorosos praticados pelos mestres em tecnologia vinícola no sentido de, nas suas palavras, se fazer uma bebida honesta e franca que todos pudessem apreciar , bem como assegurar a sua conservação. Sentiu-se na obrigação de prestar tais esclarecimentos para justificar a defesa das normas de apreciação adotadas no Laboratório Municipal, o que deu origem a acusações de conluio com falsificadores por parte de algumas corporações, que pretenderam até excluí-lo desta fiscalização. Principiava já a desenhar-se a contestação à legitimidade do Laboratório Químico Municipal para atuar neste e noutros domínios. 6.
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