Ferreira da Silva | Química para a vida, uma vida de química.

51 O caso Urbino de Freitas e as análises toxicológicas ridicularizaram, traduziram de forma deficiente e enviaram aos peritos alemães a quem haviam sido solicitados pareceres, apenas dois dos sete relatórios produzidos no decurso das análises toxicológicas, gerando duras críticas ao trabalho dos peritos portuenses. E no início do séc. XX ainda havia ecos do célebre caso de envenenamento. No nº5 do 2º ano da Revista de Química Pura e Aplicada, Ferreira da Silva viu-se obrigado a responder às acusações de más práticas neste caso, formuladas num tratado de toxicologia publicado em 1903 pelo químico alemão L. Lewin, professor na Universidade de Berlim, desmontando metodicamente a leviandade e falsidade dessas acusações. Enquanto realizava as análises toxicológicas do caso Urbino de Freitas, Ferreira da Silva chegou a alguns resultados inovadores, como foi o caso da deteção da cocaína por intermédio de uma reação em que se produz um composto com um cheiro característico de hortelã-pimenta, sendo que as reações de identificação dos alcaloides eram, na altura, maioritariamente de comparação de cor. Estendeu o estudo da ação do sulfo-selenito de amoníaco, cujo uso havia sido proposto pelo químico P. Lafon em 1885 para deteção da morfina e da codeína, a muitos outros alcaloides vegetais, tendo divulgado os seus resultados nas Academias das Ciências de Lisboa e Paris e assim contribuído para aperfeiçoar os métodos de identificação destes compostos. Finalmente, em agosto de 1893, apresentou à Academia das Ciências de Paris o resultado de uma reação de cor com a eserina que permitiria fazer a identificação de muito pequenas quantidades deste alcaloide: a matéria que se formava, de cor verde, exibia características bem definidas na análise espetroscópica. Ferreira da Silva é frequentemente chamado pai da toxicologia forense em Portugal , não porque, antes de si, não existissem químicos no país a realizarem análises toxicológicas no âmbito de casos judiciais, mas porque se preocupou com a especialização de químicos analistas nesta área, como é exemplo a publicação, em 1902, do opúsculo, “ O ensino da toxicologia e a Reforma de farmácia ”, em que defendeu a atribuição do estatuto de cadeira independente à toxicologia forense na reforma do ensino farmacêutico então em curso. 5.

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