Ferreira da Silva | Química para a vida, uma vida de química.

50 Ferreira da Silva / Química para a vida, uma vida de química Em abril de 1890, a morte de um rapaz de 13 anos, neto de um negociante de linhos abastado da cidade do Porto, após a ingestão de bolos e amêndoas enviados para a casa da família numa encomenda com remetente desconhecido, levou a uma investigação criminal que apaixonou a opinião pública e mobilizou os recursos do Laboratório Químico Municipal e a atenção de Ferreira da Silva durante largos meses. O suspeito não tardou a ser encontrado: Vicente Urbino de Freitas, clínico e professor na Escola Médico-Cirúrgica do Porto, fora chamado a acudir às queixas do menino e de outros elementos da família que haviam ingerido os mesmos doces, na sua qualidade de parente (genro dos donos da casa e tio da vítima). O caso tinha ainda grande semelhança com a morte, em grande sofrimento, de um filho do negociante três meses antes, por ocasião da passagem de ano, com a presença de Urbino de Freitas como denominador comum. As incongruências reveladas no primeiro interrogatório que lhe fizeram levaram à sua detenção. Para provar a existência de crime constituiu- se um painel de peritos afetos a escolas do Porto, do qual fez parte Ferreira da Silva, como químico analista do Laboratório Municipal. Para a defesa de Urbino de Freitas, o seu irmão, homem de posses, contratou peritos das escolas de Coimbra O caso Urbino de Freitas e as análises toxicológicas e Lisboa, secundados por especialistas alemães em toxicologia. Gerou-se uma intensa e mediatizada polémica entre uns e outros, com o julgamento a ocorrer mais de três anos depois, tendo como resultado a condenação de Urbino por envenenamento com alcaloides. Em janeiro de 1893 Ferreira da Silva e os restantes peritos da acusação fizeram publicar “ O caso médico-legal Urbino de Freitas ”, um volume com 262 páginas reunindo os relatórios das análises toxicológicas, bem como textos documentando quer a acesa polémica sustentada com os peritos da defesa quer o processo judicial. A segunda edição, melhorada e acrescentada , foi publicada menos de dois meses depois, tendo agora 542 páginas! Seguia a mesma estrutura, sendo que os autores, desde o início alvo de críticas que puseram em causa o seu bom nome, sentiram a necessidade de esclarecer muitos detalhes dos procedimentos analíticos. A tradução para língua francesa desta segunda edição, publicada no mesmo ano, contribuiu para uma maior internacionalização do caso. Num folheto publicado por O Primeiro de Janeiro no início de 1893, o naturalista e antropólogo Rocha Peixoto defendeu eloquentemente Ferreira da Silva, denunciando a forma torpe como os peritos da defesa de Urbino de Freitas

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