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Análise filogeográfica de espécies seleccionadas de herpetofauna do Estreito de Gibraltar

Vasco José Neto Batista

Um dos principais temas em análises biogeográficas é o estudo de clados que ocorrem nos dois lados de uma barreira geográfica de idade conhecida. Este tipo de barreira pode fragmentar uma distribuição outrora contínua e conduzir à diferenciação genética e consequentemente especiação vicariante, permitindo deste modo que estes processos sejam estudados dentro de um período de tempo conhecido.

O Estreito de Gibraltar é um exemplo deste tipo de barreira. Há aproximadamente 5.57-4.93 milhões de anos, o Oceano Atlântico penetrou esta região, indo encher a bacia do Mediterrâneo, que tinha secado durante a Crise Messiniana de Salinidade. O restabelecimento desta ligação marítima separou a fauna terrestre (incluindo anfíbios e répteis) em duas unidades alopátricas (Hsü et al., 1977). A fragmentação destas populações levou a uma diferenciação genética na Península Ibérica e Norte de África. No entanto, os níveis de variação génica estimados através de dados de electroforese proteica revelaram que nem toda a herpetofauna terá sido igualmente afectada pela abertura do Estreito (Busack, 1986).

Há cerca de 30 espécies de anfíbios e répteis que existem simultaneamente em Marrocos e na Península Ibérica, enquanto outros pares de organismos estão representados em cada lado do Estreito, após a ocorrência de processos vicariantes. Trabalhos realizados com a herpetofauna da Panínsula Ibérica e Marrocos até hoje revelam resultados bastante distintos.

O objectivo deste trabalho será estudar a filogeografia de certas espécies de anfíbios e répteis que ocorrem em ambos os lados do Estreito de Gibraltar. Os dados serão obtidos através da sequenciação de fragmentos de DNA mitocondrial e nuclear - genes seleccionados, altamente informativos e amplamente disponíveis para grupos externos. Este estudo irá também tentar identificar qualquer tipo de diferenciação genética inter- ou intra-específica. Isto irá permitir inferir que tipo de efeito uma barreira natural - o Estreito de Gibraltar - tem em impedir o fluxo génico entre unidades alopátricas.