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Análise de hibridação entre gato-bravo e gato doméstico em Portugal: implicações para a conservação

Rita Isabel Ribeiro Miranda de Oliveira

O gato-bravo europeu (Felis silvestris silvestris) distribui-se, actualmente, em populações fortemente fragmentadas e maioritariamente em declínio. A identidade, integridade e diversidade genéticas das populações são consideradas ameaçadas, principalmente, pela ocorrência de hibridação com gato doméstico. Embora tenha sido registada uma introgressão limitada de genes domésticos nas populações italianas e alemãs, foi observada extensa hibridação na Hungria e Escócia. Em Portugal, o gato-bravo é considerado VULNERÁVEL, no entanto, o conhecimento da diversidade genética das populações bem como do impacto da hibridação é ainda incipiente. Neste estudo, 34 gatos-bravos e 64 gatos domésticos morfologicamente identificados foram caracterizados geneticamente através da genotipagem de 12 microssatélites.

Os resultados obtidos sugerem a inexistência de uma diferenciação genética significativa entre as diferentes populações de gato-bravo e gato doméstico analisadas. Globalmente, as populações selvagem e doméstica revelam uma diferenciação genética significativa, com valores de FST e RST de 0,11 e 0,18, respectivamente (P <0,001), que reflectem distintas composições genéticas para os dois grupos, diferindo, simultaneamente, na frequência e tamanho dos alelos nos diversos loci analisados. O estudo da estruturação populacional e filiação dos indivíduos, realizados através de métodos de agrupamento de distâncias genéticas, análise multivariada de genótipos individuais e inferências Bayesianas, confirmam a existência de dois grupos geneticamente diferenciados para as populações de gato-bravo e gato doméstico portuguesas. Nestas análises, seis indivíduos morfologicamente identificados como selvagens foram filiados à população doméstica. A análise consensual de diferentes aproximações Bayesianas permitiu identificar quatro indivíduos com ancestralidade híbrida entre a população de gato-bravo. Deste modo, mais de 14% dos animais selvagens foram identificados como híbridos, sugerindo que a hibridação é um dos principais factores a considerar na futura implementação de planos de conservação do gato-bravo em Portugal.