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Combinação de marcadores moleculares e Sistemas de Informação Geográfica no estudo da zona híbrida de Lacerta schreiberi

Ricardo José do Nascimento Pereira

Compreender de que forma as características ecológicas e geográficas estruturam a variabilidade genética, a nível populacional ou individual, é de grande importância na biologia evolutiva, sobretudo no estudo de zonas híbridas onde as características da paisagem influenciam a miscigenação dos grupos evolutivos. O Lagarto-de-água (Lacerta schreiberi) é uma espécie endémica do noroeste da Península Ibérica cuja distribuição é fortemente dependente de parâmetros ambientais. O cenário filogeográfico desta espécie defende a existência de dois grupos altamente divergentes, com origem no Pliocénico tardio, que estabeleceram contacto secundário nas montanhas médias mediterrânicas do Sistema Central Ibérico, sugerindo a presença de características importantes da paisagem que determinam os padrões de miscigenação.

De forma a testar esta hipótese, procedeu-se a uma análise à micro-escala da zona híbrida de L. schreiberi através de duas abordagens independentes. Inicialmente, utilizando ferramentas de Sistemas de Informação Geográfica (SIG), foi modelada a dispersão da espécie, baseada unicamente nas características ecológicas da paisagem. Seguidamente, de forma a aceder aos perfis genéticos dos indivíduos amostrados ao longo de toda a área de estudo, foi aplicada uma abordagem molecular utilizando marcadores mitocondriais e nucleares.

Os dados nucleares permitiram a identificação de dois clinos nucleares distintos, separados em cerca de 40 Km, provavelmente originados num fenómenos alopátrico antigo seguido de um mais recente, estando o último fortemente correlacionado com as duas linhagens mitocondriais. A combinação dos padrões espaciais genéticos com o modelo ecológico revelou que esta descontinuidade genética encontra-se altamente correlacionada com as características do habitat, que promovem uma miscigenação diferencial dos genomas mitocondrial e nuclear. Apesar de as duas linhagens permanecerem completamente parapátricas na área menos adequada à espécie, o genoma nuclear revela uma área de introgressão mais extensa, através de um corredor ecológico estreito, na direcção da área mais propícia. Esta abordagem revelou ser uma ferramenta poderosa na compreensão de como as características da paisagem condicionam a hibridação.